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Foto do escritorBárbara Leão de Carvalho

#day70 – atenção às gaiolas douradas

Atenção às gaiolas douradas. Elas são lindas, muito bem arquitetadas. Elas proporcionam todos os confortos aos pássaros que são escolhidos a dedo para lá morar dentro. Estas gaiolas procuram os pássaros mais bonitos. Com o chilrear mais encantante. Os que nos encantam pelo seu canto livre e despreocupado. É tão confortável colocar os nossos pássaros queridos numas gaiolas douradas. É tão mais fácil viver com a “segurança” de estarem sempre lá a cantar para nós. É quase tão sincero como arrepiante pensar-de que estarão sempre lá como queremos. Como se a vida fosse feita da previsão do que “queremos” e “merecemos”. Como se a vida tivesse o encanto das grades que “protegem”.

Atenção às gaiolas douradas. Nenhum pássaro algum dia deveria morar nelas. É uma morte lenta, e pior, anunciada de um envelhecimento precoce para a vida que se leva por não se deixar ir. É uma morte sem tréguas, sem sabor. É uma morte sem sentido.

No limite, que se criem as gaiolas mas que se as deixem abertas, para que quem lá vive possa entrar e sair quando bem entender. Se há coisa que aprendi pela minha mãe, foi q sempre teria a opinião dela, que sempre me deixaria ir, e que sempre me receberia de braços abertos quando eu voltava de lágrimas nos olhos e dizia: “mãe tinhas razão”. E nem num milésimo de segundo me senti julgada nem sem colo. Que corajosa mãe esta que me ensinou o que é liberdade pelo exemplo de se amar e se deixar ir. E eu sabia que era a coisa mais importante na vida dela, e nem por isso me trancou na gaiola com medo que eu cresce e cometesse “erros”. Corajosa mãe que me deu a maior lição de vida sem saber. Entre as duas palavras que distinguem tudo o que sou: verdade e liberdade. Sendo que neste caso, nem quero imaginar o estado em que ficava o seu coração quando me deixava ir e sabia (pq as mães sabem sempre tudo) que me ia magoar e ia voltar para casa com mais uma ferida para ela (ironicamente) tratar. Mas mal sabia ela, que foi a deixar-me magoar pela vida, que me foi ensinado a curar e a seguir em frente, até ao ponto de muitas vezes não sentir mais dor e saber que a vida é equilibrada pq nos ensina a goza-lá pelas comparações de extremos. Mal sabia a minha mãe que se tornaria a minha maior referência de amor. Esperando eu que, tendo crescido assim, venha a cuidar dos meus filhos com a bravura que ela teve comigo ao saber amar-me da forma mais arriscada de todas: em liberdade. Saiba ela que ao me deixar ir só me ganhou. Saiba eu cuidar dos meus assim. Saiba eu honrar o que me foi dado em amor total.

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