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#day350 – Into the heart (1)

Emocionei-me. Assim que o avião descolou. Há tanto que queria voar para terras insulares. Senti o futuro a aproximar-se. Ainda há umas horas queria desistir de ir. Tenho sempre esta angústia antes de partir para alguma viagem que no fundo sei que será transformadora. A mente sempre arranja forma de tentar fazer-nos desistir de ir ao encontro dos lugares que chamam por nós. É como se houvesse uma voz de medo que gritasse sempre que saímos da zona de conforto “não vás” “estás tão bem aqui” “já viste a trabalheira que vai ser?”. E continua a voz se a alimentarmos. Já me habituei a não dar-lhe ouvidos. Talvez por isso tenha adormecido todo o voo até “dentro de momentos vamos aterrar no aeroporto de ponta delgada” ouvir. Voltaram os meus olhos a brilhar.

Sai com todo o entusiasmo que o meu coração consegue ter. E queria tanto que chegámos 30mins antes de tempo! A querida Ana ainda estava para sair de casa. Esperei como quem espera pacientemente o futuro. Com o coração cheio de desejos e a paciência de quem sabe que lá chegará. A luz que ela tem. Chega a Ana com o seu jeito carinho e um sorriso do tamanho do mundo. Feliz estava eu por a ver. Fomos o caminho todo a falar da vida. Esta vida que insistimos em ter para mudar o mundo. Conheci a Ana numa formação de sociocracia e ela era do tipo de participantes que enchia a sala. De entusiasmo e amor por um mundo melhor. Chegámos a casa dela. Que incrível lugar. Subimos a rampa até ao topo. Os jardins cuidados e a luz da lua a acompanhar. Havia um fogo sagrado. A querida Sílvia estava a convidar. Antes de perceber estava com sal nas mãos para começar imediatamente trabalho. De corte com o que já não quero mais. A magia da vista na encosta. O amor que se vive na casa. E os abraços apertados de quem vive em sinceridade foram a recepção que a ilha me deu a menos de uma hora de chegar.

Fomos andando para casa do vizinho. A Ana tinha feito a ponte para um lugar incrível para eu ficar. De um arquitecto criativo, que transformou um lugar especial numa verdadeira exposição de arte com madeira. A sua mulher Sonia tinha preparado o pod para a minha chegada. Um icosaedro projectado por ele. E feito acontecer pelas suas mãos. Tenho uma admiração incalculável por quem faz acontecer o que ama. É como se colocasse magia em ação. Entro e tem uma mezzanine. Uma energia de paz. E o barulho das ondas do mar. Saímos para me mostrarem a casa principal. Amena cavaqueira até chegar o casal de vizinhos que se tinha acabado de mudar. Nada como voltar às raízes, pedir o amor da vida em casamento e escolher uma ilha para casar. Há histórias de vida assim por aqui. Este lugar tem muito de profundidade. Saímos para ver a lua “procurem 4ª porta à esquerda. Nunca trancamos. Podem entrar.” Uma casa em reparações. Um terreno estreito que se estende até ao mar. A lua que não se via mas passava pelo céu a clarear. Ohh que linda ilha. Com tantos recantos a chamar. A escuridão da noite não permitia perceber os detalhes. Mas até de olhos fechados saberia que aquele lugar é especial. Encontro com um mar selvagem. Negro como a sua origem. Vulcânico com a sua génese mas terno como qualquer lugar marinho. Silêncio para sentir a lua. Fazia frio e regressámos. Hora de descansar para o próximo dia. Enfiei-me nos lençóis cheirosos e embalou-me o sono. Amanhã. Amanhã é outro dia.

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