Nem sempre me sinto inteira. A vida vai-me construindo aos pedaços. Como a avó que faz um bolo. Um ingrediente de cada vez. Uma técnica por sua vez. E antes que a mistura faça sentido, vai sendo o bolo, aos pedaços.
E eu. Um dia assim. Um dia assado. E nunca sei o dia de amanhã. Parece que a rotina não me acontece. Que não me aborreço na minha própria história. Nunca fui de perfile inglório. E a receita sempre vem por improviso. A vida é um tremendo sem fim de experiências. E eu, vou-me deixando levar pelo novo. Sem abandonar o antigo. Ficam as memórias de outras vidas.
Quantas vidas se pode ter numa só? Inúmeras. Por isso não gosto que uma identidade me defina. Por mim não tinha sequer um nome. A auto-imagem pesa se a tivermos que reforçar. Se ela definir os nossos dias. Se ela nos fizer falta à imagem e expectativa dos outros. E eu não gosto de me prender a uma só identidade. Estanque em si mesma. Que limite o potencial que sou. Prefiro a liberdade de me poder reinventar todos os dias. Que tristeza deverá ser, viver uma vida sempre igual se não for feliz.
Haja coragem para mudar de ideias. De passar pelos recomeços com suavidade. E deixar entrar o que vier para nos surpreender. A vida sabe dar os próprios passos. E fazer-nos caminhar a direito. Até que os vários pedaços juntos. Nos tornem em quem somos e não sabemos, por inteiro.
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