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#day299 – amar sem destino

Achava eu que sabia amar. Que bastava colocar nas caixas os momentos. Arrumá-los bonitinhos para as memórias, e catalogá-los de intensidades, verdades e apelos.

Achava eu que sabia amar. Que era a ver no futuro o destino brilhante, os passos por dar e os beijos por saborear.

Achava eu que sabia amar. Que era a colocar o meu coração lá na frente como se quisesse imprimir ritmo ao passo para mais depressa lá chegar.

Achava eu que sabia amar. Nesse futuro longínquo que insistia em escapar-me pelas rédeas curtas que lhe tinha. Verdadeiramente achava que seria com o foco nos planos que iria lá chegar.

Mas o que é o amor senão o presente vivido com intensidade? O que é o amor senão o passo de cada vez que se dá a cada dia? O que é o amor senão este encantamento pelo que está à nossa frente e não sabemos explicar?

Amar não pode ser destino. Amar tem que ser viagem.

Tem que estar repleto de observações da vida que se tem nas mãos naquele momento e seguir jornada a caminho de nenhures. É como chegar a uma terra nova e sair para passear. Os itinerários servem a quem não tem tempo. Mas só quem se demora consegue efectivamente, chegar. Quem viaja sabe o que é viver da magia do percurso novo, do enamoramento pelos pequenos detalhes, da contemplação da simplicidade. Quem viaja sabe que o mais importante é estar no lugar e deixar que ele aconteça em nós. Ou corremos o risco de passar tão objectivamente a ponto de ele não se revelar.

Amar precisa de calma. Precisa de tempo e de espaço. Não pode suportar metas.

Amar precisa de não ter destino, para que o destino, se possa revelar.

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