Podemos para sempre apontar o dedo ao outro. Ou podemos amar para além da sua capa. Da sua fachada que o protege dos perigos que vê no mundo. Todos temos as nossas capas. Todos, de alguma forma, aprendemos a passar por esta vida com algumas precauções de gato-escaldado. De bicho-de-conta que fecha em si mesmo. Mas, muitas vezes também, fomos para além disso. Aprendemos a deixar cair a protecção que já não precisamos, ou aprendemos a amar alguém para além dos muros do seu próprio castelo. Há muita bravura neste processo. Muita coragem. Mas essencialmente muito amor. Nem sempre sabemos que são as capas que nos afastam do mundo. E dos outros. Porque temos medo de viver nús. Despidos dos nossos próprios preconceitos. Por isso é mais fácil julgar do que amar a fundo alguém. Porque essa nudez de espírito que é necessária para esse feito, é muitas vezes impossível de alcançar. Aprendemos a usar as roupas da vida como acessórios de moda para os nossos personagens. E sabendo que podemos ser pessoas diferentes em diferentes contextos, nem sempre nos assumimos a 100%. Perdemos assim a vida como actores que vivem várias personagens incríveis, e no meio das suas brilhantes actuações se esquecem de quem, verdadeiramente, são.
A serra chama-me muitas vezes à razão. Quando quase me esqueço da minha essência, e preciso que os pássaros me ajudem a reclamar o meu centro. E me lembram que o pé no chão é o meu equilíbrio, quando o salto alto precisa de descansar. No fundo, o nosso “todo” é constituído por todos os nossos diferentes chapéus. Mas é preciso que todos tenham o mesmo tamanho. Porque é uma só essência que cabe ou encaixa em cada coração.
Desejo a todos que se rodeiem de quem vos ama para além das capas, e que consigam fazer o mesmo com outros e a si mesmos. Porque no limite, o que levamos desta vida são os laços de amor profundo que fizemos com quem amámos, e que nos amaram de volta, para além das nossas capas. ❤
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