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Foto do escritorBárbara Leão de Carvalho

#day257 – não preciso de um marido 

É fácil encontrar alguém para casar e ter filhos. Difícil é encontrar um companheiro para se construir uma vida de liberdade. A liberdade em casal exige um nível de presença, segurança e amor tal, que quase ninguém está preparado. Principalmente a questão da presença. Com toda a dispersão de atenção que vivemos diariamente com televisões, fachadas e pressões sociais, são raras as pessoas que conseguem ficar consigo mesmas, ouvir o seu próprio silêncio, não se assustar com os seus fantasmas e evoluir de dentro para fora. E sem esta evolução pessoal, não podemos verdadeiramente amar alguém. É esta capacidade de estarmos para nós que nos permitirá estar para o outro. E quase ninguém consegue ser, assim. Mesmo quando há entendimento intelectual, a presença só existe quando é vivida em profundidade e está tão integrada que passa a fazer parte do vocabulário individual de cada um. Sabem aquela escuta activa que seca todas as lágrimas? Aquele abraço sincero e apertado? Aquele olhar cúmplice? Aquele telefonema extra que demostra cuidado? Aquele “não estou a compreender ainda, mas estou aqui”? Isso é presença numa relação. Sempre. Todos os dias. Mesmo quando doi. É preciso um nível de coragem incrível para nos entregarmos assim a alguém. É estarmos lá para alguém assim. E isto é: companheirismo. Felizes os casados que tem companheiros em casa.

Por isso a versão romantizada do casamento não me impressiona. Mas ganha o meu respeito quem se dá incondicionalmente a alguém. E para os homens é mais difícil. Há muito de paternalismo ainda na nossa sociedade. “Elas são chatas”, “tpm”, “é insegurança dela” “poe-te linda que hoje vamos jantar com os meus amigos”. Os homens esquecem-se que as mulheres brilham nas mãos de uns e definham nas mãos de outros. Elas são para fora como são tratadas em casa. E depois há as corajosas. Que batem à porta quando se sentem desrespeitadas, e são autoconfiantes o suficiente para estarem sozinhas, mesmo que isso implique nunca encontrarem verdadeiramente alguém a altura. E amar uma mulher assim mete medo, homens, eu sei. Porque ela pode e sairá do ninho se não estiver feliz. Implica que ter que se estar num nível de verdade, presença e amor tal, que a maioria prefere a versão da mulher “fácil de gerir”. A que diz sim a tudo, e sofre por dentro só para não pôr em causa o casamento. Cuidado. É melhor perder um casamento do que perder uma vida de amor incondicional.

Não podem, nem homens nem mulheres deixar passar a vida sem experimentar esta sensação de amar e ser-se amado em profundidade. Não confundir com os momentos de paixão que nos levam à lua e mais tarde nos deixam no chão. Amor incondicional eleva sempre. E é tão especial que transforma a fundo tudo o que somos.

Por isso não preciso de um marido, mas espero ter o privilégio de encaixar com um verdadeiro companheiro. Algum desses raros homens inteiros. Desses que entendem a sua mulher a fundo e que a amam. Com tudo o que são. “Apenas”. Por tudo o que ela é. ❤

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