Ser, é admirar quem somos, onde chegámos e para onde vamos. Ser, é estar em singular observação da beleza do mundo. É dividir a atenção entre os pássaros, os feitos e os pequenos detalhes que nos abrem para a presença total no dia a dia. Ser, é viver deslumbrado com o mundo e com a oportunidade que nos é dada. É preciso tempo para se ser, tanto quanto é necessário para fazer acontecer. Porque fazer acontecer traz a ação, movimenta a paixão e nos impulsiona para um futuro presente. Fazer acontecer é concretizar quem somos, viajar no que queremos ser, e acima de tudo, projectar os nossos sonhos nesta fatia do “agora” a que temos inerentemente direito. Precisamos das duas versões de nós para sermos verdadeiramente felizes. A menos que nos tenhamos iluminado e já só vivamos no Ser.
Mas para “comuns mortais” como eu e tantos de nós, saber equilibrar o ser com o fazer, é a chave de uma vida. Ensinam-nos desde miúdos a estudar a sério, a trabalhar com força, a sermos empreendedores e a mostrar as nossas habilidades. Mas quem de nós foi educado a observar tanta beleza? Quem da nossa família dedicou tempo abraçado ao pôr do sol, a admirar a lua ou a caminhar como quem beija a terra? Muitos de nós, eu espero. Mas provavelmente não nas doses suficientes.
Precisamos de gerar espaço para admirar o mundo, quem amamos e quem somos. Precisamos de tempo para sermos UM com o que nos rodeia. Precisamos de esvaziar a cabeça para deixar entrar a magia que se perdeu algures pelo caminho. Precisamos de voltar ao conto de fadas das nossas vidas. Precisamos disso como quem precisa de respirar. Mas poucos o sabem. E por isso vemos tantos “hamsters”, “ovelhas” e “hienas”. Darmos espaço para ser quem somos, remete-nos para a nossa essência, para a nossa pureza, para a nossa felicidade. Darmos espaço para ser quem somos, abre-nos o coração, enche-nos o peito e faz-nos acreditar. Darmos espaço para ser quem somos, limpa-nos o julgamento, as armas e os arremessos. Destrói os escudos e lava-nos a alma. Ter espaço para ser, precisa de ser uma escolha nossa. Diária. Consistente. Assídua. Nunca seremos se não quisermos ser. E corremos o sério risco de apenas fazer acontecer a vida e não conseguirmos parar para a usufruir ou a contemplar. Por isso, repito, o equilíbrio é fundamental. Se não tivermos espaço para ser, não vamos conseguir ouvir a voz de quem somos, e vamos fazer acontecer “ao lado”, fora da rota do nosso coração. Vamo-nos perder naquilo que achávamos que eram atalhos, porque perdemos o discernimento do que é correcto nós. Do que é o nosso verdadeiro caminho. E então, vamos fazer acontecer uma sério de coisas “bonitas”, receber aplausos pelo “mérito” e viver infelizes para sempre, por não sabermos o que “fazemos aqui”. Ora, que sejamos primeiro, e façamos acontecer depois. Porque o verdadeiro mérito está na coragem de assumirmos os nossos dons e fazer acontecê-los depois. Nesta iteração a que chamamos vida. Para que um dia possamos contar aos nossos netos a viagem que fizemos, as aventuras que vivemos e o amor que construímos. Porque no limite, o que levamos desta vida é essencialmente o caminho que percorremos, e não apenas, onde efectivamente chegámos.
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