Nem tudo em mim é doce. Às vezes tenho que ser áspera nos meus cortes, assertiva nos meus comandos, e dura nas minhas convicções. Não porque goste especialmente de pulsos demasiado firmes, mas porque acima de tudo acho que o mundo não vive só de corações moles e permissivos. Amor exerce-se amando com firmeza. Com transparência. Com discernimento. Amor cresce em ambientes limpos de dúvidas e de interferências desnecessárias. Para mim, o caminho do amor percorre-se a limpar as “ervas daninhas” da alma. E essas ervas arrancam-se, não se regam. Durante alguns anos tentei ser inclusiva em tudo. Tentei ser consensual, apaziguadora, e “equilibrada”. Até me ter sentido abusada no meu “bem-querer”. Os limites são tão importantes quanto o “saber amar”. E servem o propósito da definição entre o que se quer e o que não se quer mesmo na nossa vida. Cumprem a sua função de trazer clareza aos nossos dias até se tornarem obsoletos em si mesmos e deixarem de ser necessários por termos já ultrapassado certo desafio que nos levou a dar certo “murro na mesa”.
Por isso me assusta, por exemplo, ver tantas mães “só amor” que não sabem dizer Não com segurança. E depois geram crianças “sem noção” dos limites entre o seu espaço e o dos outros. E mais tarde, por não saberem sequer identificar estes espaços, acabam por ser rejeitadas e sofrer de um isolamento que se foi criando com a clivagem trabalhada na sua educação de base.
Não somos seres isolados. Vivemos em espaços comuns. Por isso os limites são tão importantes e saudáveis. E é o coração que dercirne entre o que é para largar ou manter. Que delimita o que fica dentro ou fora desse nosso espaco. Dessa nossa impressão digital que deixamos no mundo. Só nesta clareza de individualidade conseguimos nós ser verdadeiramente felizes. Verdadeiramente capazes de mudar o mundo dentro e fora de nós. Por isso, hoje em dia valorizo muito mais alguém que consegue definir bem as suas preferências de forma mais ou menos emocional do que quem “permite tudo e define nada”. Precisamos de liderar as nossas vidas e isso implica que as nossas decisões nunca vão agradar a todos. Mas são nossas. E no nosso mundo mandamos nós. E com esta presença no que é importante para nós, o nosso espaço vai ficando cada vez mais definido e vai haver muita gente que se vai afastar e novas pessoas que se vão aproximar. Esta limpeza é o que traz genuinidade à vida. Porque nos permitimos a ser o que somos. Sem necessidade de aprovação e com um entusiasmo contagiante para entregar de volta aos dias.
Prefiro que me dêem um não e sejam felizes do que um sim amorfo e sem sabor só para “não magoar”. Na minha vida não quero o morno “está tudo bem”. Quero o quente “demorou, mas era exactamente assim que eu queria. Doa a quem doer. Sou feliz assim”. 💕
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